Carta Capital
29/06/2012
No encerramento da 43ª cúpula do Mercosul, a presidente da Argentina,
Cristina Kirchner, anunciou a decisão do bloco em suspender o Paraguai
até que sejam realizadas novas eleições presidenciais democráticas no
país. A decisão ocorreu porque os integrantes do mercado comum
sul-americano consideraram a destituição de Fernando Lugo na última
semana uma ruptura da ordem democrática. Além disso, com o Paraguai
suspenso, a Venezuela será incorporada como membro pleno do bloco a
partir de 31 de julho deste ano, em cerimônia a ser realizada no Rio de
Janeiro.
Como esperado, as sanções contra o Paraguai foram “leves” e
políticas, mas não econômicas. O país não poderá participar de nenhum
evento do Mercosul até que o novo presidente assuma o poder em agosto de
2013. “Não serão aplicadas sanções econômicas contra o Paraguai, já que
nosso objetivo é a melhora econômica das pessoas que moram no Cone Sul e
no resto da América do Sul”, disse Kirchner.
Reunião da cúpula extraordinária de Chefes de Estado da UNASUL. Mendonza-ARG, 29/06/2012 Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
O presidente do Paraguai, Federico Franco, disse mais cedo que se uma
suspensão ocorresse, procuraria novos parceiros comerciais. “Ao ser
suspenso, o Paraguai está liberado para tomar decisões. Vamos analisar
os custos e benefícios. Vamos fazer o que for mais conveniente para os
interesses do Paraguai”, afirmou. Franco também comentou que havia
chegado ao fim “a tutela dos vizinhos”, em referência a Brasil e
Argentina. Mas o Paraguai depende em grande parte do Mercosul. Apenas no
ano passado o Paraguai exportou aos membros do bloco cerca de 2,9
bilhões de dólares. Desde 2007 foram quase 10 bilhões de dólares. Na
comparação das exportações nos últimos cinco anos até 2011 para o
restante da América do Sul (sem os integrantes do Mercosul), esse valor é
de apenas 3,6 bilhões, quase três vezes menor. Os dados são do Sistema
de Análise das Informações de Comércio Exterior do Mercosul, do
Ministério do Desenvolvimento. E esse perfil se repete quando analisadas
as exportações paraguaias à União Europeia, grupo com o qual o Mercosul
tenta fortalecer laços. Em 2011, foram apenas 515 milhões de dólares e
desde 2007 o valor fica em torno de 1,8 bilhão de dólares. Número bem
inferior às exportações paraguaias do último ano ao Mercosul. Na Ásia, a
situação não é muito diferente. Entre 2007 e 2011, as vendas para
China, Hong Kong e Macau somaram escassos 287 milhões de dólares.
A dependência de nações vizinhas fica clara nos dados. Uruguai,
Brasil e Chile (que não integra o Mercosul) são os maiores compradores
de produtos paraguaios, enquanto principais vendedores são China, Brasil
e Argentina, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Por outro lado, o Paraguai não aparece entre os cinco principais
parceiros dos países do Mercosul em exportação ou importação, um
indicador de que tem pouca relevância comercial para estes Estados,
embora eles representem considerável parte de sua renda.
Leia mais sobre o assunto:
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