Agência Brasil
28/05/2010
Brasil precisa fortalecer comércio com vizinhos para reduzir perda de mercado para a China
Pedro Peduzzi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Para diminuir a perda do mercado externo para a China, sobretudo na América Latina e nos Estados Unidos, o Brasil precisará olhar principalmente para dentro, visando a reduzir custos da produção. A avaliação foi feita por alguns dos pesquisadores que lançaram hoje (28) o livro O Brasil e os demais Brics: Comércio e Política, no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
“A China é, sim, a nova oficina da manufatura mundial e isso é uma ameaça para o Brasil, caso o país não passe por uma estratégia de fortalecimento, principalmente na América do Sul. Ou fazemos isso ou seremos prejudicados”, avalia o coordenador de Pesquisas e Estudos de Economia e Política Internacional do Ipea, Marcos Antônio Macedo Cintra.
“Mas, ao mesmo tempo, com os ganhos que temos por exportarmos muito para a China, geramos dólares que podem fortalecer a economia e a indústria brasileira para buscar esses objetivos, principalmente na América do Sul”, disse o pesquisador.
De acordo com o diretor do escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), organizadora da publicação, Renato Baumann, as maiores perdas ocorreram nos mercados dos EUA e da América Latina. “Os resultados desses estudos buscam provocar mais estudos para entender o que está acontecendo e estimular novas políticas econômicas para o Brasil”, disse Baumann.
“Isso passa pela necessidade de implementarmos agendas nacionais, regionais e internacionais no país, visando a reduzir o custo Brasil, melhorar a infraestrutura, a legislação e a qualidade da mão de obra e os vínculos com países vizinhos”, acrescentou.
Cintra destaca, no entanto, que os países do Bric - e principalmente a China - podem ajudar o Brasil na articulação de temas internacionais. “Sobretudo na chamada ordem financeira e monetária internacional, uma vez que está em cheque o papel da moeda de reserva internacional [o dólar]”, avalia
Ele explica que a China tem US$ 2,5 trilhões em reservas. “Isso faz dela um ator importante na ordem financeira internacional, com poder de negociação para que novas regras surjam, relacionadas ao funcionamento do Fundo Monetário Internacional [FMI], do Banco Mundial e da própria moeda das reservas internacionais.”
Para o subsecretário-geral de Assuntos Políticos do Ministério das Relações Exteriores, Roberto Jaguaribe, apesar de apresentarem diferenças significativas, os países do Bric podem alcançar muitos objetivos comuns.
“O Bric em si já é um reflexo das aprofundadas mudanças do contexto internacional, servindo de instrumento facilitador do processo de multipolarização. Há diferenças, mas também muitas coisas em comum. Inclusive o tamanho. É hoje um grupo com peso internacional e são importantes inclusive fora da área econômica e financeira, que é a origem do grupo”, avalia o embaixador.
Quanto aos problemas decorrentes da perda de mercado na América Latina, Jaguaribe também acredita que se trata de um processo que envolve mais questões internas do que externas ao Brasil. “Há questões que são provocadas por inadequações internas brasileiras que estão sendo corrigidas. Estamos voltando a ter crescimento sustentável e capacidade de competir com tecnologias e indústrias. O avanço chinês é mais um alerta para que resolvamos essas questões [internas]”, disse Jaguaribe. “E o Brasil tem condições nacionais estruturais de permitir economias competitivas, com multiplicidade de setores, inclusive de agregação de valores.”.
“No entanto temos de desmistificar a ideia de que vender commodities e produtos agrícolas é uma coisa ruim. Só é possível fazer isso no grau em que o Brasil faz com uma enorme capacidade competitiva que vai além de água, do solo e do sol. Há pesquisas realizadas com muito empenho e por muitos séculos em nosso país”, completou.
Edição: João Carlos Rodrigues
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