Pública, 18/06/2012
Por Natalia Viana
Revolução à americana
Por Natalia Viana
No canto superior do documento, um punho cerrado estampa a marca da
organização. No corpo do texto lê-se: “Há uma tendência presidencialista
forte na Venezuela. Como podemos mudar isso? Como podemos trabalhar
isso?”. Mais abaixo, o leitor encontra as seguintes frases: “Economia: o
petróleo é da Venezuela, não do governo. É o seu dinheiro, é o seu
direito… A mensagem precisa ser adaptada para os jovens, não só para
estudantes universitários… E as mães, o que querem? Controle da lei, a
polícia agindo sob autoridades locais. Nós iremos prover os recursos
necessários para isso”.
O texto não está em espanhol nem foi escrito por algum membro da
oposição venezuelana; escrito em inglês, foi produzido por um grupo de
jovens baseados em outro lado do mundo – na Sérvia.
O documento
“Análise da situação na Venezuela, Janeiro de 2010”, produzido pela
organização Canvas, cuja sede fica em Belgrado, está entre os documentos
da empresa de inteligência Stratfor vazados pelo WikiLeaks.
O último vazamento do WikiLeaks – ao qual a Pública teve acesso –
mostra que o fundador desta organização se correspondia sempre com os
analistas da Stratfor, empresa que mistura jornalismo, análise política e
métodos de espionagem para vender “análise de inteligência” a clientes
que incluem corporações como a Lockheed Martin, Raytheon, Coca-Cola e
Dow Chemical – para quem monitorava as atividades de ambientalistas que
se opunham a elas – além da Marinha americana.
O Canvas (sigla em inglês para “centro para conflito e estratégias
não-violentas”) foi fundado por dois líderes estudantis da Sérvia, que
participaram da bem-sucedida revolta que derrubou o ditador Slobodan
Milosevic em 2000. Durante dois anos, os estudantes organizaram
protestos criativos, marchas e atos que acabaram desestabilizando o
regime. Depois, juntaram o cabedal de conhecimento em manuais e
começaram a dar aulas a grupos oposicionistas de diversos países sobre
como se organizar para derrotar o governo. Foi assim que chegaram à
Venezuela, onde começaram a treinar líderes da oposição em 2005. Em seu programa de TV, Hugo Chávez acusou o grupo de golpista e de estar a serviço dos Estados Unidos. “É o chamado golpe suave”, disse.
Os novos documentos analisados pela Pública mostram que se Chávez não
estava totalmente certo – mas também não estava totalmente errado.
O começo, na Sérvia
“Foram dez anos de organização estudantil durante os anos 90”, diz
Ivan Marovic, um dos estudantes que participaram dos protestos contra
Milosevic, mas que não tem ligação com o grupo Canvas. “No final, o
apoio do exterior finalmente veio. Seria bobo eu negar isso. Eles
tiveram um papel importante na etapa final. Sim, os Estados Unidos deram
dinheiro, mas todo mundo deu dinheiro: alemães, franceses, espanhóis,
italianos. Todos estavam colaborando porque ninguém mais apoiava o
Milosevic”, disse ele em entrevista à Pública.
“Dependendo do país, eles doavam de um determinado jeito. Os
americanos têm um ‘braço’ formado por ONGs muito ativo no apoio a certos
grupos, outros países como a Espanha não têm e nos apoiavam através do
ministério do exterior”. Entre as ONGs citadas por Marovic estão o
National Endowment for Democracy (NED), uma organização financiada pelo
congresso americano, a Freedom House e o International Republican
Institute, ligado ao partido republicano – ambos contam polpudos
financiamentos da USAID, a agência de desenvolvimento americana que
capitaneou movimentos golpistas na América Latina nos anos 60, inclusive
no Brasil.
Todas essas ONGs são velhas conhecidas dos governos latinoamericanos, incluindo os mais recentes.
Foi o IRI, por exemplo,
que ministrou “cursos de treinamento político” para 600 líderes da
oposição haitiana na República Dominicana durante os anos de 2002 e
2003. O golpe contra Jean-Baptiste Aristide, presidente democraticamente
eleito, aconteceu em 2004. Investigado pelo Congresso dos Estados
Unidos, o IRI foi acusado de estar por trás de duas organizações que
conspiraram para derrubar Aristide. Na Venezuela, o NED enviou US$ 877
mil para grupos de oposição nos meses anteriores ao golpe de Estado
fracassado em 2002, segundo revelou o New York Times. Na Bolívia, segundo documentos do
governo americano obtidos pelo jornalista Jeremy Bigwood, parceiro da
Pública, a USAID manteve um “Escritório para Iniciativas de Transição”,
que investiu US$ 97 milhões em projetos de “descentralização” e
“autonomias regionais” desde 2002, fortalecendo os governos estaduais
que se opõem a Evo Morales.
Procurado pela Pública, o líder do Canvas, Srdja Popovic, diz que a
organização não recebe fundos governamentais de nenhum país e que seu
maior financiador é o empresário sérvio Slobodan Djinovic, que também
foi líder estudantil.
Porém, um PowerPoint de apresentação
da organização, vazado pelo WikiLeaks, aponta como parceiros do Canvas o
IRI e a Freedom House, que recebem vultosas quantias da USAID.
Para o pesquisador Mark Weisbrot, do instituto Center for Economic
and Policy Research, de Washington, organizações como a IRI e Freedom
House “não estão promovendo a democracia”. “Na maior parte do tempo,
estão promovendo exatamente o oposto. Geralmente promovem as políticas
americanas em outros países, e isto significa oposição a governos de
esquerda, por exemplo, ou a governos dos quais os Estados Unidos não
gostam”.
Fase dois: da Bolívia ao Egito
Vista através do mesmo PowerPoint
de apresentação, a atuação do Canvas impressiona. Entre 2002 e 2009,
realizou 106 workshops, alcançando 1800 participantes de 59 países. Nem
todos são desafetos americanos – o Canvas treinou ativistas por exemplo
na Espanha, no Marrocos e no Azerbaijão – mas a lista inclui muitos
deles: Cuba, Venezuela, Bolívia, Zimbabue, Bielorrussia, Coreia do
Norte, Siria e Irã.
Segundo o próprio Canvas, sua atuação foi importante em todas as
chamadas “revoluções coloridas” que se espalharam por ex-países da União
Soviética nos anos 2000.
O documento aponta como “casos bem sucedidos” a transferência de
conhecimento para o movimento Kmara em 2003 na Geórgia, grupo que lançou
a Revolução Rosas e derrubou o presidente; uma ajudinha para a
Revolução Laranja, em 2004, na Ucrânia; treinamento de grupos que
fizeram a Revolução dos Cedros em 2005, no Líbano; diversos projetos com
ONGs no Zimbabue e a coalizão de oposição a Robert Mugabe; treinamento
de ativistas do Vietnã, Tibete e Burma, além de projetos na Síria e no
Iraque com “grupos pró-democracia”. E, na Bolívia, “preparação das
eleições de 2009 com grupos de Santa Cruz” – conhecidos como o mais
ferrenho grupo de adversários de Evo Morales.
Até 2009, o principal manual do grupo, “Luta não violenta – 50 pontos cruciais” já havia sido traduzido para 5 línguas, incluindo o árabe e o farsi.
Um das ações do Canvas que ganhou maior visibilidade foi o
treinamento de uma liderança do movimento 6 de Abril, considerado o
embrião da primavera egípcia. O movimento começou a ser organizado pelo
Facebook para protestar em solidariedade a trabalhadores têxteis da
cidade de Mahalla al Kubra, no Delta do Nilo. Foi a primeira vez que a
rede social foi usada para este fim no Egito. Em meados de 2009,
Mohammed Adel, um dos líderes do 6 de Abril viajou até Belgrado para ser
treinado por Popovic.
Nos emails aos analistas da Stratfor, Popovic se gaba de manter
relações com os líderes daquele movimento, em especial com Mohammed Adel
– que se tornou uma das principais fontes de informação a respeito do
levante no Egito em 2011. Na comunicação interna da Stratfor, ele é
mencionado sob o codinome RS501.
“Acabamos de falar com alguns dos nossos amigos no Egito e descobrimos algumas coisas”, informa ele
no dia 27 de janeiro de 2011. “Amanhã a irmadade muçulmana irá levar
sua força às ruas, então pode ser ainda mais dramático… Nós obtivemos
informações melhores sobre estes grupos e como eles têm se organizado
nos últimos dias, mas ainda estamos tentando mapeá-los”.
Documentos da Stratfor
Os documentos vazados pelo WikiLeaks mostram que o Canvas age de
maneira menos independente do que deseja aparentar. Em pelo menos duas
ocasiões, Srdja Popovic contou por email ter participado de reuniões no
National Securiy Council, o conselho de segurança do governo americano.
A primeira reunião mencionada
aconteceu no dia 18 de dezembro de 2009 e o tema em pauta era Russia e a
Geórgia. Na época, integrava o NSC o “grande amigo” de Popovic – nas
suas próprias palavras – o conselheiro sênior de Obama para a
Rússia, Michael McFaul, que hoje é embaixador americano naquele país.
No mesmo encontro, segundo Popovic relatou mais tarde, tratou-se do
financiamento de oposicionistas no Irã através de grupos pró-democracia,
tema de especial interesse para ele. “A política para o Irã é feita
no NSC por Dennis Ross. Há uma função crescent sobre o Irã no
Departamento de Estado sob o Secretário Assistente John Limbert. As
verbas para programas pró-democracia no Irã aumentaram de US$ 1,5 milhão
em 2004 para US$ 60 milhões em 2008 (…) Depois de 12 de junho de 2009,
o NSC decidiu neutralizar os efeitos dos programas existentes, que
começaram com Bush. Aparentemente a lógica era que os EUA não queriam
ser vistos tentando interferir na política interna do Irã. Os EUA não
querem dar ao regime iraniano uma desculpa para rejeitar as negociações
sobre o programa nuclear”, reclama o sérvio, para quem o governo Obama estaria agindo
como “um elefante numa loja de louça” com a nova política. “Como
resultado, o Iran Human Rights Documentation Center, Freedom House, IFES
e IRI tiveram seus pedidos de recursos rejeitados”, descreve em um email no início de janeiro de 2010.
A outra reunião de Popovic no NSC teria ocorrido às 17 horas do dia 27 de julho de 2011, conforme Popovic relatou à analista Reva Bhalla.
“Esses caras são impressionantes”, comentou, em um email
entusiasmado, o analista da Stratfor para o leste europeu, Marko Papic.
“Eles abrem usa lojinha em um país e tentam derrubar o governo. Quando
bem usados são uma arma mais poderosa que um batalhão de combate da
força aérea”.
Marko explica aos seus colegas da Stratfor que o Canvas – nas suas
palavras, um grupo tipo “exporte-uma-revolução” – “ainda depende
do financiamento dos EUA e basicamente roda o mundo tentando derrubar
ditadores e governos autocráticos (aqueles de quem os Estados Unidos não
gostam)”. O primeiro contato com o líder do grupo, que se tornaria sua
fonte contumaz, se deu em 2007. “Desde então eles têm passado
inteligência sobre a Venezuela, a Georgia, a Sérvia, etc”.
Em todos os emails, Popovic demonstra grande interesse em trocar
informações com a Strtafor, a quem chama de “CIA de Austin”. Para isso,
vale-se dos seus contatos entre ativistas em diferentes países. Além de
manter relação com uma empresa do mesmo filão idológico, se estabelece
uma proveitosa troca de informações. Por exemplo, em maio de 2008 Marko
diz a ele que soube que a inteligência chinesa estaria considerando
atacar a organização pelo seu trabalho com ativistas tibetanos. “Isso já
era esperado”, responde Srdja. Em 23 de maio de 2011, ele pede informações sobre a autonomia regional dos curdos no Iraque.
Venezuela
Um dos temas mais frequentes na conversa com analistas da Stratfor é a
Venezuela; Srdja ajuda os analistas a entenderem o que a oposição está
pensando. Toda a comunicação, escreve Marko Papic, é feita por um email
seguro e criptografado. Além disso, em 2010, o líder do Canvas foi até a
sede da Stratfor em Austin para dar um briefing sobre a situação venezuelana.
“Este ano vamos definitivamente aumentar nossas atividades na Venezuela”, explica o sérvio no email de apresentação
da sua “Análise da situação na Venezuela”, em 12 de janeiro de 2010.
Para as eleições de setembro daquele ano, relata que “estamos em contato
próximo com ativistas e pessoas que estão tentando ajudá-los”, pedindo
que o analista não espalhe ou publique esta informação. O documento,
enviado por email, seria a “fundação da nossa análise do que planejamos
fazer na Venezuela”. No dia seguinte, ele reitera em outro email: “Para explicar o plano de ação que enviamos, é um guia de como fazer uma revolução, obviamente”.
O documento,
ao qual a Pública teve acesso, foi escrito no início de 2010 pelo
“departamento analítico” da organização e relata, além dos pilares de
suporte de Chávez, listando as principais instituições e organizações
que servem de respaldo ao governo (entre elas, os militares, polícia,
judiciário, setores nacionalizados da economia, professores e o conselho
eleitoral), os principais líderes com potencial para formarem uma
coalizão eficiente e seus “aliados potenciais” (entre eles, estudantes, a
imprensa independente e internacional, sindicatos, a federação
venezuelana de professores, o Rotary Club e a igreja católica).
A indicação do Canvas parece, no final, bem acertada. Entre os
principais líderes da oposição que teriam capacidade de unificá-la estão
Henrique Capriles Radonski, governador do Estado de Miranda e candidato
de oposição nas eleições presidenciais de outubro pela coalizão Mesa de
Unidade Democrática, além do prefeito do distrito metropolitano de
Caracas, Antonio Ledezma, e do ex-prefeito do município de Chacao,
Leopoldo Lopez Mendoza. Dois líderes estudantis, Alexandra Belandria, do
grupo Cambio, e Yon Goicochea, do Movimiento Estudiantil Venezolano,
também são listados.
O objetivo da estratégia, relata o documento, é “fornecer a base para
um planejamento mais detalhado potencialmente realizado por atores
interessados e pelo Canvas”. Esse plano “mais detalhado” seria
desenvolvido posteriormente com “partes interessadas”.
Em outro email
Popovic explica:“Quando alguém pede a nossa ajuda, como é o caso da
Venezuela, nós normalmente perguntamos ‘como você faria?’ (…) Neste caso
nós temos três campanhas: unificação da oposição, campanha para a
eleição de setembro (…). Em circunstâncias NORMAIS, os ativistas vêm até
nós e trabalham exatamente neste tipo de formato em um workshop. Nós
apenas os guiamos, e por isso o plano acaba sendo tão eficiente, pois
são os ativistas que os criam, é totalmente deles, ou seja, é autêntico.
Nós apenas fornecemos as ferramentas”.
Mas, com a Venezuela, a coisa foi diferente, explica Popovic: “No
caso da Venezuela, por causa do completo desastre que o lugar está, por
causa da suspeita entre grupos de oposição e da desorganização, nós
tivemos que fazer esta análise inicial. Se eles irão realizar os
próximos passos depende deles, ou seja, se eles vão entender que por
causa da falta de UNIDADE eles podem perder a corrida eleitoral antes
mesmo que ela comece”.
Aqueles que receberam a análise (como o pessoal da Strartfor, por
exemplo) aprenderam que segunda a lógica do Canvas os principais temas a
serem explorados em uma campanha de oposição na Venezuela são:
- Crime e falta de segurança: “A situação deteriorou tremendamente e dramaticamente desde 2006. Motivo para mudança”
- Educação: “O governo está tomando conta do sistema educacional: os
professores precisam ser atiçados. Eles vão ter que perder seus empregos
ou se submeter! Eles precisam ser encorajados e haverá um risco. Nós
temos que convencê-los de que os temos como alta esfera da sociedade;
eles detêm uma responsabilidade que valorizamos muito. Os professores
vão motivar os estudantes. Quem irá influenciá-los? Como nós vamos
tocá-los?”
- Jovens: “A mensagem precisa ser dirigida para os jovens em geral, não só para os estudantes universitários”.
-Economia: “O petróleo é da Venezuela, não do governo, é o seu dinheiro, é o seu direito! Programas de bem-estar social”.
- Mulheres: “O que as mães querem? Controle da lei, a polícia agindo
sob as autoridades locais. Nós iremos prover os recursos necessários
para isso. Nós não queremos mais brutamontes”.
- Transporte: “Trabalhadores precisam conseguir chegar aos seus
empregos. É o seu dinheiro. Nós precisamos exigir que o governo preste
contas, e da maneira que está não conseguimos fazer isso”.
- Governo: “Redistribuição da riqueza, todos devem ter uma oportunidade”.
- “Há uma forte tendência presidencialista na Venezuela. Como podemos mudar isso? Como podemos trabalhar com isso?”
No final do email, Popovic termina com uma crítica grosseira aos
venezuelanos que procura articular: “Aliás, a cultura de segurança na
Venezuela não existe. Eles são retardados e falam mais que a própria
bunda. É uma piada completa”.
Procurado pela Pública, o líder do Canvas negou que a organização
elabore análises e planos de ação revolucionária sob encomenda. E foi
bem menos entusiasta com relação ao seu “guia” elaborado para a
Venezuela.
“Nós ensinamos as pessoas a analisarem e entenderem conflitos
não-violentos – e durante o processo de aprendizagem pedimos a
estudantes e participantes que utilizem as ferramentas que apresentam no
curso. E nós também aprendemos com eles! Depois usamos o trabalho que
eles realizaram e combinamos com informações públicas para criar estudos
de caso”, afirmou. “E isso é transformado em análises mais longas por
dois estagiários. Usamos estas análises nas nossas pesquisas e
compartilhamos com estudantes, ativistas, pesquisadores, professores,
organizações e jornalistas com os quais cooperamos – que estão
interessados em entender o fenômeno do poder popular”.
Questionado, Popovic também respondeu às criticas feitas por Hugo
Chávez no seu programa de TV: “É uma fórmula bem conhecida… Por décadas
os regimes autoritários de todo o mundo fazem acusações do tipo
‘revoluções exportadas’ como sendo a principal causa dos levantes em
seus países. O movimento pró-democracia na Sérvia foi, claro, acusado de
ser uma ‘ferramenta dos EUA’ pela TV estatal e por Milosevic, antes dos
estudantes derrubarem o seu regime. Isso também aconteceu no Zimbabue,
Bielorrusia, Irã…”
O ex-colega de movimento estudantil, Ivan Marovic – que ainda hoje dá
palestras sobre como aconteceu a revolta contra Milosevic, mas não faz
parte da organização Canvas – concorda com ele: “É impossível exportar
uma revolução. Eu sempre digo em minhas palestras que a coisa mais
importante para uma mudança social bem-sucedida é ter a maioria da
população ao seu lado. Se o presidente tem a maioria da população ao
lado dele, nada vai acontecer”.
Marovic avalia, no entanto, que houve uma mudança de percepção do
“braço de ONGs” dos governos ocidentais, em especial dos Estados Unidos,
depois da revolução na Sérvia em 2000 e as “revoluções coloridas” que
se seguiram no leste europeu. “Um mês depois de derrubarmos o Milosevic,
o New York Times publicou um artigo dizendo que quem realmente derrubou
o Milosevic foi a assistência financeira americana. Eles estão
aumentando o seu papel. E agora acreditam que a grana dos Estados Unidos
pode derrubar um governo. Eles tentaram a mesma coisa na Bielorrusia,
deram um monte de dinheiro para ONGs, e não funcionou”.
O pesquisador Mark Weisbrot concorda, em termos. É claro que nenhum
grupo estrangeiro, ainda mais um grupo pequeno, pode causar uma
revolução em um país. Para ele, não é o dinheiro do governo americano –
seja através de ONGs pagas pelo National Security Council, pela USAID ou
pelo Departamento de Estado – que faz a diferença. “A elite
venezuelana, por exemplo, não precisa deste dinheiro. O que estes grupos
financiados pelos EUA, antigamente e hoje, agregam são duas coisas: uma
é habilidade e o conhecimento necessário em subverter regimes. E a
segunda coisa é que esse apoio tem um papel unificador. A oposição pode
estar dividida e eles ajudam a oposição a se unificar”. Para ele, muitas
vezes o patrocínio americano tem uma “influência perniciosa” em
movimentos legítimos. “Sempre tem pessoas grupos lutando pela democracia
nestes países, com uma variedade de demandas, reforma agrária,
proteções sociais, empregos… E o que acontece é que eles capitaneiam
todo o movimento com muito dinheiro, inspirado pelas políticas que
interessam aos EUA. Muitas vezes, os grupos democráticos que recebem o
dinheiro acabam caindo em descrédito”.
Clique aqui para ver todos os documentos no site do WikiLeaks.
Fonte:
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