domingo, 7 de fevereiro de 2010

Brasil lança programa de defesa "mais ambicioso" da América do Sul

UOL Notícias

06/02/2010 - 07h00

Brasil lança programa de defesa "mais ambicioso" da América do Sul para se tornar potência mundial, diz especialista

Talita Boros
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Ao contrário de outros países emergentes, o Brasil não se engajou na corrida armamentista mundial das últimas décadas. Em 2009, de acordo com o relatório elaborado pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos , com sede em Londres, o país resolveu mudar de postura e lançou o programa de defesa mais ambicioso da América do Sul.

Para Gunther Rudzit, coordenador do curso de relações internacionais da Faap (Fundação Armando Alvares Penteado, em São Paulo), o país finalmente está em busca de destaque internacional. “Para um país ser reconhecidamente considerado uma potência, ele tem que ter estrutura militar e é isso que o Brasil está fazendo agora, correndo atrás do que não investiu nos últimos 30 anos”, disse.

Em 2009, o orçamento de investimentos do ministério da Defesa foi de R$ 4,2 bilhões. Para 2010, a previsão aprovada pelo Congresso é de R$ 7,2 bilhões, ou seja, um aumento de mais de 71% em relação ao ano anterior.

Segundo o documento apresentado pelo instituto britânico, o maior interesse do país é ocupar uma posição de destaque no grupo dos Bric – formado pelos quatro principais países emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia e China.

Na opinião de Rudzit, para ser reconhecido pelo G6 - Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália –, o Brasil tem que mostrar bem mais do que apenas capacidade econômica e um bom perfil ambiental.

“O estado do inventário militar brasileiro é bastante preocupante. O investimento em aviões e submarinos é essencial. O país necessita de investimento pois os aparelhos estão obsoletos”, afirmou.

Grandes investimentos

Em setembro de 2009, o Senado aprovou dois dos maiores programas brasileiros na área de defesa – o Prosub e o H-X BR – para a construção do primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro, acompanhado de quatro submarinos convencionais e de 50 helicópteros. De acordo com o Ministério da Defesa, os dois projetos serão desenvolvidos com transferência de tecnologia francesa.

O Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), segundo informações do ministério, terá um custo total de cerca de R$ 19 bilhões, dos quais R$ 12,1 bilhões serão financiados e os R$ 6,9 bilhões restantes serão pagos diretamente com recursos do Tesouro Nacional. O financiamento dos submarinos será pago pelo Brasil em 20 anos (2010 a 2029) ao consórcio formado pelos bancos BNP Paribas S.A, Societé Generale, Calyon S.A. Credit Industriel et Commercial, Natixis e Santander.

Ainda de acordo com o ministério, a construção dos 50 helicópteros do Projeto H-X BR será realizada pela fábrica da empresa Helibrás, em Itajubá (MG). O projeto custará cerca de R$ 5,1 bilhões, dos quais R$ 4,9 bilhões serão financiados pelos franceses, em nove anos, e R$ 232 milhões serão desembolsados pelo Tesouro. Cada força – Marinha, Exército e Aeronáutica – receberá 16 helicópteros e as outras duas aeronaves serão destinados a FAB para transporte de autoridades.

Como 2010 é o primeiro ano de pagamento brasileiro dos dois novos projetos, dos R$ 7,2 bilhões previstos para o orçamento de investimentos deste ano, R$ 630 milhões são destinados ao H-X BR e R$ 2,3 bilhões ao Prosub.

O relatório elaborado pelo instituto britânico destaca essas novas aquisições militares brasileiras, aliadas ao desenvolvimento nacional, como uma das causas do "ambicioso" programa de militarização do país. O estudo cita ainda o interesse do Brasil em desenvolver tecnologia nuclear para a propulsão de submarinos, a transferência de tecnologia e o investimento estrangeiro na indústria de defesa nacional.

Outra medida ressaltada pelo instituto está a criação da Secretaria de Produtos de Defesa, que centralizará as aquisições militares previstas no novo programa. O relatório cita, no entanto, o impacto da crise financeira no país, que obrigou o governo a atrasar os planos de renovação de frotas devido aos problemas econômicos.

Rafale, o favorito do governo

Uma das maiores polêmicas dentro dos novos investimentos militares do Brasil é a compra de caças que serão usados pelas Forças Armadas. Segundo reportagem publicada na quinta-feira (4) pela "Folha de S.Paulo", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, bateram o martelo a favor da França na compra do caça Rafale após a Dassault reduzir de US$ 8,2 bilhões (R$ 15,1 bilhões) para US$ 6,2 bilhões (R$ 11,4 bilhões) o preço do pacote de 36 aviões para a Força Aérea Brasileira.

O ministro Nelson Jobim negou que o governo já tenha decidido comprar os caças franceses Rafale para a Força Aérea Brasileira. Segundo Jobim, não há fundamento na informação divulgada hoje de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já teria aceitado a oferta da empresa francesa Dassault em reduzir em 25% o preço das 36 aeronaves. “Não está definida a compra dos caças. O processo ainda está no âmbito do Ministério da Defesa. A notícia não tem fundamento”, disse.

Quando as negociações foram iniciadas, a FAB (Força Aérea Brasileira) teria mostrado interesse pela compra do modelo Gripen NG, de fabricação sueca, em detrimento da oferta francesa de aviões Rafale, mas o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, destacou que a decisão da compra era política e não apenas militar. Na época, o presidente Lula já havia mostrado preferência pelas aeronaves francesas, pois a França prometeu ao Brasil transferência de tecnologia sem restrições.


Um comentário:

  1. Quando vi textos dizendo que o Brasil optou por deixar no Fx-2 /3 os últimos três vetores, ou seja, o Boeing F/A-F-18 Super Hornet, o Dassault Rafale F3 e o SAAB Gripen NG, pensei cá com meus botões: -“ O Brasil entrou direto no engodo”. Analisemos o 1º caça, o Boeing americano: A USAF chegou a conclusão que esse vetor de 3ª geração, já não se encontrava a altura de sua força aérea, já não havia como trabalhar seu “upgrade” trazendo-lhe modernidade, tentaram até transformá-la no EA-18G Growler e só, continuou um caça de 3ª geração e, finalmente, chegou-se a conclusão que deveria substitui-la pelo Lokheed Martin F-35 Lightining II, uma aeronave mais moderna e de 5ª geração. Pergunta: Serve para o Brasil um vetor obsoleto e antigo, de 3ª geração? Bom, passo ao segundo caça, que é o Dassault Rafale F-3: Custo-benefício alto, já é uma extensão de um projeto também antigo, de 3ª geração, derivado do Mirage 2000. A Dassault se encontra falida porquê não encontra mercado para esse vetor. Existem tecnologias melhores e mais baratas no momento. Os franceses não cumprem seus compromissos, mesmo que estejam respaldados em contratos e perdem muito com isso. O Brasil quer realmente uma situação assim? Vamos para o ultimo caça, o SAAB Gripen NG: Existe um projeto no papel sobre o mesmo e um único protótipo construído que é apresentado aos compradores, portanto, nunca foi realmente testado em combate. Por traz desse vetor existe um consórcio envolvendo vários países, sendo a SAAB sua madrinha. É um projeto mais antigo que os dois anteriores, um caça de 2ª geração e, o pior da questão, é um monoturbinado. O Brasil vai colocar esse vetor nos hangares da FAB? Penso que o FX-2/3 está caminhando para uma solução apavorante: Deixar mais sucatas para que a FAB realmente se engesse e não tenha autonomia para policiar nosso espaço aéreo com propriedade. A soberania nacional é algo muito sério e deveria ser tratada com mais respeito, inteligência e responsabilidade. Deixo aqui meu parecer na esperança que todo esse horizonte seja tansformado. Que o Brasil escolha seus vetores com plena consciência do que esteja fazendo e que o brasileiro participe ativamente dessa importante escolha.

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