quarta-feira, 26 de maio de 2010

Tensão na Península Coreana: Coréia do Norte corta todas as relações com a Coréia do Sul em meio à troca de acusações

Tudo indica que a promessa feita pelo primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama, eleito ano passado - de retirar algumas das mais importantes bases militares americanas instaladas no Japão -, será adiado por tempo indeterminado.
O crescimento da tensão entre as Coréias do Norte e do Sul, enfraquece sensivelmente a posição dos japoneses e sul-coreanos que defendem a retirada das bases dos EUA na região.  Esta crise pode ampliar velhas tensões entre China e EUA, inclusive em torno da questão do apoio dos Estados Unidos à independência da província chinesa de Taiwan. Taiwan, parte histórica da China, foi invadida e ocupada pelos Japoneses na Guerra Sino Japonesa de 1894-1895, no mesmo conflito em que os japoneses ocuparam a Coréia.

Os dois territórios ocupados pelos japoneses foram alvo de lutas durante a II Guerra Mundial, quando o Japão invadiu a China e travou seguidas batalhas contra os chineses por quase 15 anos (1931-1945), onde morreram cerca de 20 a 25 milhões de chineses. Antes mesmo de ser anunciada a derrota do Japão na II Guerra Mundial, a Coréia já estava dividida entre as áreas de ocupação dos EUA e da URSS.  Com a vitória da Revolução Comunista na China, em 1949, outro território que fora ocupado pelo Japão, Taiwan, passou a ser governada pelo grupo dos "nacionalistas", apoiados pelos EUA. A Guerra da Coréia (1950-1953) dividiu definitivamente o povo coreano, separado em dois Estados distintos até os dias atuais. Infelzimente, ainda hoje a Guerra da Coréia não acabou formalmente, tendo sido estabelecido apenas um cessar-fogo, mas nunca celbrado um acordo de paz. Ou seja, a Coréia do Norte ainda está "formalmente em guerra" com os EUA, na interpretação dos americanos.


O problema é que isto é usado pelos Estados Unidos para dificultar todas as iniciativas de reunificação da Coréia ou de pacificação da Península. A atual crise pode ser apenas mais uma de várias que já ocorreram, envolvendo todos os países da região, especialmente China e Japão. As seguidas provocações entre as Coréias nos últimos anos já resultaram em vários confrontos armados isolados, provocando mortes de ambos os lados. Como as Coréias até hoje não reconheceram seus respectivos limites marítimos, ambos constantemente acusam um ao outro de invadir suas águas territoriais - cuja demarcação permanece m disputa.

 Acrescenta-se a este "caldeirão" a nuclearização da Coréia do Norte, que pretende claramente ter alguma capacidade de dissuasão nuclear, como forma de compensar a inferioridade tecnológica e de material bélico de ponta, frente à Coréia do Sul. Atualmente a Coréia do Norte compensa esta defasagem tecnológica convencional com um contingente de soldados numericamente muito superior, mas o custo social e conômico de manter o 5o maior Exército do mundo, é muito grande. A posse de armas nucleares, neste sentido, permitiria reduzir o tamanho das suas forças convencionais e também, tentar afastar o "fantasma" do genocídio nuclear que paira sobre o imaginário norte-coreano, desde a Guerra da Coréia. Naquela ocasião, o alto-comando de guerra dos EUA chegou a discutir publicamente um plano para varrer a Coréia do Norte do mapa, com armas nucleares. Felizmente o plano foi abortado rapidamente. Durante a Guerra Fria, os EUA chegaram a manter cerca de 1000 armas nucleares em suas bases militares na Coréia do Sul, o que tornava a ameaça do exterminismo nuclear algo muito factível. Após o fim da Guerra Fria, ao menos oficialmente, todas as armas nucleares americanas foram retiradas da Coréia do Sul, e a Coréia do Norte finalmente completou sua capacidade de produção de armas nucleares de baixa potência (fissão nuclear). Nos anos 1990, assistimos a alguns períodos de aproximação entre os dois governos, mas provocações constantes voltaram a ocorrer a partir do fim da década e início dos anos 2000.

O afundamento do navio sul-coreano em 26 de março de 2010 vem ampliar as rivalidades históricas, paralisando novamente as negociações de paz. Esta crise também adia os importantes projetos de investimento em infra-estrutura de integração entre os países da região, que depende essencialmente da pacificação da Península Coreana. Também paralisa as negociações iniciadas pelo atual governo japonês para a retirada de bases militares americanas do seu território. A questão que fica "no ar" é: Será que a Coréia do Norte ganharia alguma coisa começando m incidente deste tipo? Neste caso, quem realmente ganhou com toda esta crise?
Vale a pena acompanhar o desenrolar destes acontecimentos. A seguir, estou postando uma análise da BBC-Brasil e alguns links e mapas sobre este tema.
Lucas K. Oliveira

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BBC Brasil

25 de maio, 2010

Coreia do Norte corta todas as relações com a Coreia do Sul


A Coreia do Norte anunciou nesta terça-feira que está cortando todas as relações, inclusive de meios de comunicação, com a Coreia do Sul.


Segundo a KCNA, a agência oficial de notícias norte-coreana, o país também expulsará os trabalhadores sul-coreanos de uma fábrica administrada conjuntamente pelos dois países perto da fronteira.

O anúncio é mais um sinal do acirramento das tensões na região após uma investigação independente na semana passada ter responsabilizado um torpedo norte-coreano pelo afundamento do navio Cheonan, em março, no qual 46 marinheiros sul-coreanos morreram.

A Coreia do Norte nega a acusação.

Os dois lados permanecem tecnicamente em guerra há 57 anos - já que não foi assinado um cessar-fogo oficial no final da Guerra da Coreia, em 1953.

‘Resposta efetiva’

Ainda nesta terça-feira, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, afirmou que os Estados Unidos e a China precisam atuar em conjunto para encontrar “uma resposta efetiva” à crise encontra as duas Coreias.

Falando após encontro com autoridades chinesas em Pequim, Hillary Clinton disse que a manutenção da paz na península coreana é “uma responsabilidade compartilhada” entre os países.

A secretária de Estado afirmou que ninguém está mais preocupado com a paz e a estabilidade na região do que o governo chinês.

Mas, apesar disso, a China até agora somente pediu calma e não condenou oficialmente a Coreia do Norte pelo ataque ao navio.

Na segunda-feira, os Estados Unidos já haviam anunciado a realização de exercícios militares navais conjuntos com a Coreia do Sul após a escalada da tensão na região.



Um dia antes, a Coreia do Sul anunciou que estava proibindo a passagem de barcos da Coreia do Norte por suas águas, suspendendo quase todo o comércio com o vizinho e levando a questão do afundamento do navio para o Conselho de Segurança da ONU.

O governo brasileiro divulgou nesta terça-feira uma nota dizendo ter recebido "com grande preocupação a notícia da semana passada sobre o resultado das investigações sobre o naufrágio do Cheonan.
Na nota, o governo diz que "continua a acompanhar atentamente a questão e conclama as partes envolvidas a absterem-se de quaisquer atos que ponham em risco a estabilidade da península coreana".

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/05/100525_coreia_relacoes_terca_rw.shtml

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Notícias relacionas na BBC:



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Mapas  e ilustrações relacionadas a este post:


 A Coréia dividida pela Guerra

Fonte: Stratfor

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Mapas  e ilustrações relacionadas a este post:


Bases militares dos Estados Unidos na Coréia do Sul
Bases militares dos EUA e áreas de treinamento utilizadas pelas tropas americanas na Coréia do Sul
 

Um comentário:

  1. Excelente blog! parabéns pelo trabalho! Fontes primárias e fidedignas!
    Saudações Acadêmicas

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