IBGE
Comunicação Social
14 de dezembro de 2010
Nova edição do Atlas Nacional revela transformações do território brasileiro
O IBGE lança hoje o Atlas Nacional do Brasil Milton Santos, que atualiza as informações geográficas sobre o território brasileiro. A obra articula textos e imagens de satélite produzidas com técnicas avançadas, ampliando a capacidade de observar a complexa realidade do país. O Atlas capta dois importantes processos da dinâmica brasileira na primeira década deste século: a melhoria de condições de vida de parte da população e a valorização da potencialidade do território.
Responsável pela difusão do conhecimento geográfico do Brasil entre estudantes de todos os níveis de ensino, o Atlas reúne o maior conjunto de informações levantadas pelas instituições públicas do país, constituindo-se como instrumento estratégico para o planejamento de seu futuro.
A publicação se estrutura em torno de quatro grandes eixos: O Brasil no mundo; Território e meio ambiente; Sociedade e economia; e Redes geográficas. O primeiro trata da inserção do Brasil no cenário mundial. Aborda questões como a desigualdade social, o acesso a informações, as redes geográficas e as fontes energéticas. Ressalta que as diversas formas de inclusão do Brasil no mundo afetam a própria geografia do país, pois grande parte das atividades aqui desenvolvidas relaciona-se à competição mundial.
A relação entre Território e meio ambiente também é abordada, enfatizando que o espaço geográfico representa um dos fundamentos da identidade nacional, o que torna seu mapa uma referência central desta identidade e de seu reconhecimento no mundo. Trata da divisão política, da regionalização e do meio ambiente, destacando que o território brasileiro está submetido a uma tensão constante entre forças que induzem à interiorização da ocupação do território e, simultaneamente, ao reforço do processo histórico de litoralização.
O tema Sociedade e economia ressalta que a formação econômica e social é uma categoria fundamental para entender o espaço. Aborda a dinâmica geográfica, a urbanização, a desigualdade social, saúde, educação, saneamento, cidadania e espaço econômico.
O último eixo, Redes geográficas, considera as redes como elementos centrais de compreensão da dinâmica e da transformação do espaço geográfico contemporâneo. Inclui as redes geodésicas, cartográfica, urbana, viárias, energéticas, telefônicas e informacionais.
Os textos aprofundam a compreensão da dinâmica do país e estimulam a reflexão sobre caminhos para superar desigualdades, colocando na ordem do dia a questão do desenvolvimento sustentável, entendido não como um estado a alcançar, mas como um processo de transformação contínua e aperfeiçoada, envolvendo as dimensões econômica, social, ambiental e política.
Composto por 548 mapas, 237 a mais que na edição anterior (2000), 76 gráficos, oito tabelas, seis fotos e 14 imagens de satélite, o Atlas pode ser adquirido na Loja Virtual do IBGE (http://www.ibge.gov.br/lojavirtual/default.php) e nas livrarias consignadas (http://www.ibge.gov.br/lojavirtual/livrarias.php). Entre os destaques, estão os mapas referentes à cadeia produtiva (carne, algodão herbáceo e mandioca) e o da distribuição dos estabelecimentos agropecuários, publicados pela primeira vez nesta edição.
Tensão entre litoralização e interiorização marca realidade brasileira
O Brasil teve sua geografia alterada na última década no sentido de aprofundar o processo de interiorização, o que se expressa pela expansão das cadeias produtivas de carne, grãos e algodão em direção ao Centro-Oeste e ao Norte, a exemplo dos municípios de Sorriso e Lucas do Rio Verde, ambos em Mato Grosso.
Nessa região, a expansão de uma agropecuária caracterizada pelo emprego de máquinas e insumos explica que sua expansão econômica tem reforçado um processo de urbanização que cresce em apoio a essa atividade pouco absorvedora de mão-de-obra. Isso revela uma modificação na geografia brasileira ocorrida na última década, aprofundando o processo de interiorização e alterando o traçado da rede urbana nacional, a densidade e mobilidade populacional, a articulação do espaço econômico e a intensificação do uso de recursos naturais.
Por outro lado, houve uma revalorização do litoral, graças à expansão de atividades econômicas como o turismo, a exploração do petróleo e a logística portuária e aérea, que, além do adensamento da população e dos centros urbanos situados próximos ao mar, reforçam um processo histórico de litoralização do território.
Exemplos disso são o crescimento de cidades como Macaé e Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, ligado ao crescimento das atividades de extração de petróleo; a expansão demográfica do litoral do Espírito Santo, em função do aumento das atividades industriais e portuárias, e do litoral de Santa Catarina, ligado ao turismo.
Os fluxos de migração interestaduais também servem de exemplo da força das grandes cidades e áreas próximas ao litoral na comparação com os fluxos destinados ao interior do país. A grande exceção constitui a área no entorno de Brasília, que continua a apresentar enorme capacidade de atração migratória.
Uma análise dos primeiros resultados do Censo 2010 ratifica a existência dessa tensão, revelando que, enquanto as áreas litorâneas do Sul, Sudeste, Nordeste e Norte continuam a apresentar um crescimento mais elevado de população absoluta, Centro-Oeste e Norte se destacam no incremento relativo (percentual).
A publicação reforça, ainda, que não foram plenamente vencidas as desigualdades regionais de desenvolvimento. A organização do território nacional, implementada pelas corporações e orientada para as exportações, revigorou a diferenciação entre o litoral e o interior e entre o Sul e o Norte-Nordeste do país. População, atividades, portos e companhias exportadoras de minérios localizam-se na faixa costeira e na porção Sul, enquanto no interior da metade Norte escasseiam gradativamente as redes e os serviços.
Brasil se afirma no cenário geopolítico mundial
O Atlas Nacional do Brasil analisa também a inserção do Brasil no sistema mundial contemporâneo através de uma visão multidimensional das relações internacionais. Para tanto, utiliza-se da clássica cartografia do mundo segundo o tamanho territorial e populacional dos países e daquela referente à diversidade natural e à desigualdade socioeconômica.
A diversidade revelada através da questão ambiental (clima e temperatura, recursos hídricos e florestas) sugere que a base de recursos naturais, tem revalorizado o papel geopolítico da natureza, colocando a percepção do meio ambiente como elemento fundamental no sistema mundial contemporâneo. Esse processo, condicionado pelas novas tecnologias, coloca a natureza como fonte de informação para a biotecnologia, abrindo caminho para o desenvolvimento científico-tecnológico, notadamente no campo da introdução de novas fontes de energia.
Além dos mapas referentes à diversidade natural e aos recursos energéticos renováveis e não renováveis, a geografia do mundo aponta também para a relevância das questões ligadas às desigualdades social, econômica e tecnológica, revelando que o processo de globalização ocorrido nas esferas financeira e econômica aponta para a ampliação das diferenças.
Território fundamenta identidade nacional no Brasil
Elemento de caracterização da sociedade e do Estado brasileiro, o território é um dos fundamentos e símbolo da identidade nacional, o que torna seus mapas uma referência desta identidade e de seu reconhecimento no mundo. O Atlas demonstra que, enquanto resultado do poder e da ação sobre o espaço geográfico, a formação do território brasileiro é comprometida com uma visão interligada de processos e circunstâncias que moldaram, no tempo e espaço, a tropicalidade, a ocupação socioeconômica e a ação do Estado no Brasil. O processo de ocupação e as atividades econômicas desenvolvidas no Brasil estiveram fortemente relacionadas com a exploração de seus recursos e das potencialidades naturais de seu território.
Rede urbana é polarizada por grandes metrópoles
A urbanização é um processo que concentra cada vez mais contingentes populacionais em espaços restritos. No Brasil, a amplitude deste processo alcança mais de 80,0% da população. A urbanização brasileira cresceu desigual, abrangendo poucas cidades que concentram população e riqueza e multiplicando pequenos centros urbanos que abrigam uma força de trabalho pouco qualificada e fortemente vinculada às atividades primárias.
As aglomerações urbanas e as 49 cidades com mais de 350 mil habitantes abrigam 50,0% das pessoas em situação urbana no país e detêm, aproximadamente, 65,0% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. No outro extremo, estão 4.295 municípios com menos de 25 mil habitantes, que respondem por 12,9% do PIB.
Na evolução da rede urbana brasileira, observa-se a predominância de doze centros que reforçam sua atuação e se mantêm como as principais cabeças de rede do sistema urbano brasileiro entre 1966 e 2007. No topo, além de São Paulo, figuram Rio de Janeiro e Brasília. O quadro é completado com Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre e Goiânia. As metrópoles são os pontos preferenciais de convergência das mais modernas redes, em especial as de comunicações (transporte, energia e telefonia) e informacionais. Possuem grande concentração populacional e amplas áreas de influência, drenando a produção de suas regiões e apresentando fortes relacionamentos entre si.
O Atlas conclui que, na organização espacial do quadro urbano brasileiro, é marcante a ampliação e o adensamento das redes. Embora a urbanização brasileira se concentre no litoral, quando se considera a densidade, o tamanho dos centros e a localização dos principais nós difusores da rede de cidades, percebem-se mudanças na divisão territorial do trabalho com a descentralização produtiva e acentuação das desigualdades espaciais.